Viajamos ao Pé da Serra numa missão urgente: soltar uma tartaruga de 64kg, em período de desova. A mesma fora apreendida pelo IBAMA de Cruzeiro do Sul, e a serra foi identificada pelo chefe do Escritório como o local mais adequado, apesar de não ser o seu habitat natural...
A equipe foi composta por mim, Alenaldo e Zezinho (colaboradores do IBAMA e do ICMBio), Miro (nosso zelador no pé da serra e "pau-pra-toda-obra") e seu filho Paulo. "Aproveitamos", e levamos um gerador trifásico de 12,5KVA para ser instalado no PIC (Posto de Informação e Controle) Pé da Serra. Incorporamos mais um componente, o eletrecista Nascimento, na equipe.
A canoa, de propriedade do Miro, partiu bem carregada. Levávamos ainda material de limpeza e botijões de gás para o PIC, além da bagagem e combustível (150 litros de gasolina da viagem, 20 litros de Diesel para o gerador e mais R$100,00 de gasolina do Miro). Colocar o gerador na canoa deu algum trabalho... A tartaruga foi "devidamente" acondicionada numa caixa d'água de 250 litros. A embarcação, de 1,5 tonetadas, foi equipada equipada com um motor Honda de 13HP, de propriedade do PNSD. Partimos do porto do Japiim, em Mâncio Lima, por volta de 14:00. "Almoçamos" uma farofa de moela com arroz integral, cortesia da minha esposa.
Levamos cerca de 2:30h para sair no Moa, chegando às 22:30 na Base em São Salvador, onde pernoitamos. A partir das 19:30, foi preciso ir "facheando" o rio, evitando paus, barrancos e bancos de areia. A base está completamente militarizada, com símbolos do 61º Batalhão de Infantaria de Selva (BIS), apesar de ser de propriedade do IBAMA. Fruto, principalmente, de nossa ausência, acredito. Encontramos uma reforma profunda: foram instalados dois novos geradores, e toda a parte elétrica e hidráulica estava sendo trocado. Fomos recepcionados pelo Ten. Leite, e alojados na Enfermaria. Miro e Paulo dormiram na casa próximo ao rio, para tomar contar da canoa. Tomamos um café com bolacha e fomos dormir.
Alvorada do dia 15, tomamos café e seguimos viagem às 7:00. A partir do rio Azul, o Moa estava bastante seco, e com muito pau, aluns troncos grandes. Chegamos no pé da serra por volta de 16:00, com muia fome. Miro foi providenciar uma galinha e nos encarregamos de descarregar o barco, com a ajuda de moradores que ele foi angariando pelo caminho. Foram precisos 8 homens para descarregar o gerador e levá-lo até a casa de força, no alto do barranco. Procedemos à instalação do gerador o que aconteceu até as 20:15, por problema nas escovas, o que demorou um pouco a até ser precebido. Jantamos a galinha a fomos dormir.
16/08/2009 - domingo: alvorada às 6:30, com a radiância do sol. Tomamos café e fomos proceder à soltura da tartaruga, em duas canoas, conduzidas por Júlio e alisson, jovens da comunidade, indicados por Miro. No trajeto, já na foz do igarapé Ramon, encontramos uma espécie de acampamento, do Sr. Anísio, morador veterano do pé da serra, que devia estar pescando nas proximidades.
Realizamos a soltura numa praia no Moa, acima da "boca" do Ramon. Aparentemente tudo ok. Procuramos pelo Sr. Anísio no Moa e no Ramon, sem sucesso. A equipe do Ramon encontrou uma turma de 4 caçadores, chefiada pelo Sr. Mundico, morador do pé da serra (+ um irmão, um genro e um filho). Haviam caçado 3 queixadas e duas pacas. Encontramos com eles 4 armadilhas de espera, que foram apreendidas. Também não carregavam os registros das espingardas "pra não molhar". Foram devidamente orientados, advertidos da presença da tartaruga e liberados. Os mesmos informaram que havia outra turma de caçadores, moradores do ig. Zumira, acampados acima do do ig. Brasil. Solicitamos ao Sr. Mundico que transmitisse ao Miro que organizassem uma reunião na comunidade no final da tarde.
Retornando, fizemos uma parada na "cachoeira" do pedernal. A mesma estava em excelentes condições para banho. Durante a permanência no pedernal, o Sr. Aldemir, acompanhado de outro morador, subiram o Moa para pescar, munidos de espinhéis. Foram advertidos da presença da tartaruga e solicitados a não utilizar o motor, fazendo uso dos remos, a aprtir do pedernar, para colaborar na adaptação do animal. Percebemos que a área do cânion do Moa, acima do pedernal está bastante frequentada por caçadores e pescadores.
Havíamos sido informados de que um morador havia "brocado" uma área de capoeira na região no ig. Pirapora, interior da serra. Verificamos o local, de cerca de 1 ha, derrubado e sem queimar. Desmanchamos um pequeno tapiri, recolhemo uma lona e algum lixo, seguindo viagem.
A cachoeira do Pirapora estava em bom estado e a placa no devi local, um pouco encoberta pela vegetação.
Procedemos à cachoeira do ar condicionado. A trilha encontra-se em razoável estado de conservação, necessitando melhorias numa travessia alta do igarapé. A placa da cacheira foi derrubada e rasgada, num ato de vandalismo. Verificamos que outras placas estão danificadas, sobretudo a tiros de espingarda. A área do ar condicionado estava bem preservada, e propícia ao lazer.
Procedemos ao Buraco da central: placa caída e uma lata de cerveja no interior da caldeira; vestígios de fogueira recente. Uma peça da caldeira encontrava-se enterrada na areia. Local em boas condições para banho, necessita de algum cuidado nas pedras (Alenaldo cortou o calcanhar).
Retornamos ao PIC, que necessita de um reaparelhamento: materiais de cozinha, lencóis e fronhas, reformulação do sistema de captação de água ("mergulhão de baixa potência").
A reunião fora marcada para as 16:00, "horário velho". Dirigi-me a caso do Miro, local da reunião. A família do Sr. Mundico deixou um "vaso" de carne de queixada para o Miro e sua família. Fomos informados de que a deputada Maria Antônia e o ex-prefeito de Rodrigues Alves Deda haviam estado na comunidade na semana passada, e deixado dois kits com gerador, televisão e parabólica nas "casas principais", a do Miro e a do Sr. Bilau, um tanto abaixo.
Às 16:30 procedemos o início da reunião: me re-apresentei como novo chefe do PNSD, falei da reestrutração institucional e da equipe que está em curso e demos prosseguimento aos assuntos em pauta: a presença da tartaruga; caça e pesca no interior da serra; condições das trilhas; o desmate no ig. pirapora; a instalação do gerados e a atuação dos representantes da comunidade junto ao ICMBio. Foi solicitado aos moradores que evitassem a área acima do pedernal, principalmente nos próximos 30 dias, período provável da desova da tartaruga. Houve muita resistência, pois a serra tornou-se a principal área de caça e pesca, principalmente devido às invasões com cachorro no restante da área. Partiu-se para uma longa discussão sobre os meios de eliminar o problema, sobretudo na própria comunidade, dentre eles a presença constante de militates do 61BIS no PIC, controlando a área. Apresentei a placa danificada do ar condicionado e comentei a situação das trilhas, lamentando de que a chuva e o pouco tempo disponível impossibilitassem a verificação de outros locais, como a cachoeira formosa e o mirante. Ficou acordado de que Miro iria compor uma equipe para verificar as necessidade de manutenção, levando a lista de insumos numa próxima viagem. Foi comentado também a necessidade de garantir o acompanhamento de um guia local para assegurar uma melhor manutenção dos atrativos turisticos, monitorando os visitantes, e de que se faz preciso que esta orientação seja dada já no escritório do PNSD em Cruzeiro do Sul. Solicitaram também uma placa em Mâncio Lima orientando os visitantes a solicitarem autorizaação do ICMBio para entrarem no PNSD.
O sr. Edson, responsável pelo desmate no Pirapora, alegou não dispor de outras capoeiras para plantar, então havia retornadoà sua colocação original, pois inclusive havia sido cadastrado como morador daquela localidade. O mesmo foi orientado a interromper a sua atividade no interior da serra e buscar junto à comunidade um espaço para o seu plantio. Iniciou-se uma discussão sobre conflitos de uso da terra, com a inserção de roçados no lado do rio tradicionalmente utilizado para a criação de porcos. Muito se discutiu, várias acusações sobre quem seria o responsável (o que também já havia acontecido no caso da caça), sem ser possível chegar-se a um acordo. Ficou na responsabilidade de a comunidade, orientada pelas suas lideranças, providenciar resolução no caso do Sr. Edson, e de que a equipe do PNSD utilizaria da tecnologia disponível (imagens de satélite, GPS) caso isso fosse necessário. Este tópico serviu de abertura para falarmos das representações da comunidade frente ao ICMBio e suas atuações locais: há algum tempo recebemos reclamações por parte da comunidade e de outros conselheiros, de que o representante da comunidade no Conselho Consultivo do Parque, "Zé do Anísio", não vinha cumprindo com suas obrigações. Vários declararm de que ele não realiza reuniões na comunidade, nem antes, nem após as reuniões do conselho; de que não estava repassando nenhuma informação; de quem acabava fazendo este papel era o Miro, por estar em maior contato com a equipe do PNSD. Foram orientados de que, se o conselheiro não tem cumprido o seu papel satisfatoriamente, que o mesmo podia ser substituído, como acontecera anteriormente, e de que a equipe do Parque poderia estar intermediando esta ação se a comunidade achasse preciso, mas de que a comunidade tinha total autonomia nesta decisão. Ficaram de conversar com Zé do Anísio e buscar um entendimento. Miro foi muito elogiado na condução dos seus trabalhos como zelador, guarda-parque informal e guia local, informando e contanto com a ajuda dos moradores da comunidade. Neilson, agente ambiental voluntário do IBAMA também colocou seu procedimento de realizar reuniões com a comunidade para tratar dos assuntos referentes ao seu plano de trabalho, o qual não foi questionado, mas notei que o mesmo não tinha muito a apresentar, talvez por falta de apoio institucional. O mesmo foi informado de que o programa de agentes ambientais voluntários estava sendo oficialmente descontinuado em todas as UC Federais, mas de que o mesmo teria todo o apoio da administração do PNSD na realização de ações voluntárias de educação ambiental na comunidade, que é uma das mais, senão a mais, estratégicas para o manejo da Unidade.
Por final, informamos da instalação do gerador, que tem capacidade de atender ao PIC e aos interesses coletivos da comunidade, inclusive de instalação de oficina de artesanato ou outra forma de desenvolvimento, desde que dentro de normas adequadas, e que a implantação de qualquer proposta, inclusive iluminação das residências, dependia de um planejamento e acordo prévio, com a comunidade garantindoa manutenção do uso diretamente ou através de algum apoio. Não houve enhuma proposta no momento, mas os participantes se disseramsatisfeitos com tudo o que ouviram, significando que a gestão do Parque estava ali para apoiar a comunidade, desde que a mesma entrasse em clima de entendimento interno e com as regras da Unidade. Por volta de 19:00 encerramos a reunião, que contou com cerca de 35 pessoas (29 assinaram a lista de presença) e com um esvaziamento considerável a partir das 18:00 quando muitos evangélicos dirigiram-se para o seu culto dominical.
O que percebi foi que a longa ausência institucional minou a pouca organização que havia na comunidade há alguns anos, e que facilitou os desvios das regras vigentes. Se faz necessário um trabalho de fortalecimento da organização, paralelo à ações de promoção do desenvolvimento da comunidade em bases sustentáveis e diminuição do impacto sobre a biodiversidade, uma vez que a manutenção da comunidade é importante para o turismo no local. Os problemas relatados pareem sempre ter existido, mas encontram-se muito ampliados.
Durante a reunião, o Sr. Chico Rocha, da comunidade Zumira, desceu o rio vindo do interior da serra, conduzindo uma canoa e outra a reboque, com sua família e um cachorro. Mesmo sendo chamado a parar não atendeu à solicitação. Os moradores disseram que, "uma vez por ano", ele tem tal procedimento e que a antiga chefe, Camila já havia se aborrecido muito com ele em outras ocasiões, que o mesmo era muito "enrolão", "passava a conversa" em todo mundo, "até no BIS". Propus irmos até a residência no mesmo no dia seguinte, mas fui desaconselhado por ser muito no interior do igarapé, demandando longa caminhada pelos pastos da comunidade Zumira.
No dia 17, retornamos a Cruzeiro do Sul. Fomos abordados pelos Srs. Vilson e Edson. O primeiro queria uma autorização para aproveitar a segunda metade de um "âmago" que havia caído no interior da serra. Ele já havia sido autorizado a utilizar a madeira para construção de uma canoa grande para viajar a Mâncio Lima, e agora queria aproveitar o restante para construir uma canoa pequena, para uso na comunidade, e sabendo da que o Parque estava com nova chefia, aguardava uma possibilidade para tratar do assunto. Primeiramente, foi orientado de que tal assunto era melhor ser discutido com o conjunto da comunidade, preferencialmente na reunião da véspera. Miro confirmou a situação exposta (o que foi novamente confirmada pelo AA Fernando Maia no escritório do ICMBio) e o mesmo foi autorizado, desde que utilizasse o mínimo possível a motosserra no interior da Serra, seguindo também as orientações já expostas na reunião.
O Sr. Edson insistia de que resolvêssemos a situção dele, pedindo autorização para utilizar a área derrubada "apenas" este ano, enquanto ele procuraria uma nova área para trabalhar no próximo ano. Foi mais uma vez desautorizado a continuar, podendo ser efetivamente multado caso desrespeitasse a orientação, e que procurasse junto aos moradores uma área adequada. Aguns comentários dão conta de que o Sr. Edson tem problemas de relacionamento com diversos vizinhos, por motivos variados, tendo iclusive, deixado a área do PNSD, ido para a cidade e reotrnado há 3 anos, mudando de residência por duas vezes.
Seguimos viagem, paramos na base em São Salvador às 13:30, entramos no Japiim às 17:15, aportando em Mâncio Lima ás 18:45, aguardando o veículo do ICMBio até as 19:30, chegando em Cruzeiro do Sul, por volta de 20:00 do dia 17 de agosto de 2009.
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